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2012-06-19

Rio+20: o desapontamento esperado

Se há alguma expectativa que a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20 não logra é a expectativa de não haver grandes expectativas em relação aos resultados desta cimeira. Segundo Paulo Prada e Nina Chestney da Reuters, o entusiasmo desvanece quando comparado com a Cimeira de 1992, a crise na Europa e a queda das bolsas desvia as atenções e o abismo entre as metas estabelecidas pelos países ricos e pelos países pobres mantém-se. Em vez de energia limpa, alimentação, preservação dos oceanos e outros tópicos agendados para debate, o foco é deslocado para as oscilações económicas na Europa, os tumultos do Médio Oriente e a campanha presidencial nos EUA.
Com as notáveis ausências de Barack Obama e dos líderes da Alemanha e do Reino Unido a darem que falar e o pouco progresso que houve nas negociações que antecederam a conferência, parece que nem o chavão da Economia Verde conseguiu conquistar audiência. Talvez esta situação seja somente mais um dos sintomas que anuncia o colapso dos modelos de relação internos e externos das sociedades humanas onde a Economia Verde surge como mais um mecanismo de alienação do humano em relação à Terra e de reificação do mundo natural. As oscilações do mercado continuam a assumir uma maior importância que a garantia de produção de bens básicos e a construção de sociedades resilientes; o enfoque é colocado no desenvolvimento (sinónimo de crescimento económico) e não no ambiente e a frase "responsabilidades comuns, mas diferenciadas" é o slogan das nações em vias de desenvolvimento para legitimarem a secundarização das preocupações ambientais em benefício do crescimento das suas economias, com a agravante que esse crescimento não, necessariamente garantia de maior bem-estar das populações, como os portugueses o podem testemunhar. A única notícia encorajadora surge com a intenção de reforçar o PNUMA — Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável — mas sem a intenção de o tornar numa agência desta organização.
A Rio+20 ameaça tornar-se num fracasso total. Nem mesmo a projeção que a Cimeira dá à cidade do Rio de Janeiro parece agradar aos cariocas que veem o seu quotidiano perturbado pelas ruas encerradas, os voos atrasados e o aumento do caos urbano da metrópole que o maranhense Coelho Neto, inspirado por Genolino Amado, apelidou de Cidade Maravilhosa.
Um novo paradigma, ético, mental e civilizacional é necessário, uma nova forma de ver o mundo como um todo e o humano como um dos seus múltiplos constituintes. Infelizmente parece que os decisores mundiais estão reticentes em o reconhecer, mas não o fazer é estúpido porque a alternativa não tem vencedores, apenas vencidos.

Créditos
Foto: Uma trabalhadora fala ao telemóvel durante um pequeno intervalo, junto ao logótipo da Rio+20 à entrada do Pavilhão do Brasil. Rio de Janeiro, 18 de Julho de 2012, por Reuters/Nacho Doce.

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